Depois de alguns dias na cidade movimentada de Manaus, e alguns dias ao sul do Rio Solimões no meio da mata, nós viajamos 3 horas no sentido oeste de Manaus, para uma pequena cidade chamada Novo Airão. Nos foi recomendado por uma amiga, a Gabi, muito especial que conhece bem a área e por alguns blogs. É conhecida pelo seu remoto parque nacional e por ser um ótimo lugar para se ter contato com os Botos rosas da Amazônia.
Para chegar a Novo Airão existe três possibilidade: barco, lotação ou avião. Nós escolhemos nos juntarmos aos locais e pegar uma lotação, mais rápido que ir de barco e bem mais barato do que um avião. As lotações saem todas as manhãs no começo da ponte Rio Negro. Uma vez que deixamos para trás os subúrbios de Manaus a viagem começa a ficar bem interessante, muita floresta, fazendinha super rurais e muitas vacas perdidas na estrada. Depois de 3 horas chegamos a Novo Airão. Daí começa a procura de onde vamos ficar, vimos todos os tipos de pousadas, super baratinhas, tipo 50 reais para o casal, até hotéis 5 estrelas de mais de mil reais à noite… Loucocaro! Acho que fizemos a melhor escolha entre as pousadas, como já tinha conhecimento que algumas pousadas possuíam redarios, essa foi a nossa pedida. Ficar na pousada mais legal da cidade, mas se arriscar a dormir em redes do lado de fora, sim com toda a bicharada. A Pousada Bela Vista fica de frente para o Rio Negro com um deck, piscina, academia…e um super café da manhã incluso. Muito bom! Como estávamos na baixa temporada tivemos a pousada toda só para nós dois.
Por lá conhecemos um cliente frecuente no bar, era um alemão, que mora nesta região a mais de 10 anos com sua namorada brasileira. Quando começamos a conversar com ele aí percebemos o quanto remoto era onde estávamos, literalmente o fim da estrada. Para ir a qualquer lugar depois daqui só pela água ou ar, não existem estradas daqui até as fronteiras da Venezuela , Colômbia ou Peru. Loucura né! Conseguimos nos enfiar no meio do nada mesmo. A cidade antigamente se localizava mais ao norte do Rio Negro, agora chamado de Velho Airão, foi abandonada depois da era da borracha e a cidade foi invadida por formigas, só resta ruínas e um único morador. Um senhor japonês, que faz passeios com os raros visitantes.
A maior atração aqui é claro que é o rio e sua natureza ao redor. O tamanho é incalculável, eu nunca vi um rio tão grande. Do Porto da cidade quando você olha o que parece ser o outro lado do rio que já está a uma distância de 3,5Km, mas quando você descobre que é só uma das mais de 400 ilhas que fazem parte do arquipélago das Anavilhanas. Quer dizer o segundo maior arquipélago de água doce do mundo! A verdadeira largura do rio é de de 14 a 19 km, nesta região. Muito calmo, só com as pequenas ondas formadas pelos barcos e com uma cor absurdamente escura, tipo um chá preto.
No rio moram, entre várias outras espécies de animais, os botos rosa, golfinhos e peixe-bois. Próximo ao pequeno porto da cidade esta o escritório flutuante que cuida da preservação dos botos, onde é possível ver de perto, tirar fotos e até tocar neles. Todos os dias das 8:30am às 5:30pm eles são alimentados por um monitor a cada hora, para a visitar é paga uma taxa que é usada para comprar os peixes. Esta é a hora que eles se aproximam, super dóceis e brincalhões. A rapidez e a inteligência desses botos é incrível, eles saltam fora da água para receber nosso cafuné e fisgar os peixes, somem na água escura e voltam rapidamente para mais e mais… Todos eles têm nomes, o mais brincalhão é o Eddie.
Próxima parada, nós encontramos o Antônio, um barqueiro que nos levou para passear por algumas horas para dentro das Anavilhanas, visitar algumas comunidades ribeirinhas e conhecer um pouco mais da região. Como nossa visita foi na época da cheia, não vimos muitas das famosas praias de areia branca que se formam ao redor das ilhas. Essa época elas ficam todas submersas, e o passeio todo é feito de barco entrando e saindo de Igarapés.
O Antônio nos levou para a comunidade Santo Antônio, uma vila super pequena, onde moram 7 famílias. Encontramos e conversamos com algumas delas, eles nos mostraram a escola, duas igrejas e os animais que vivem por ali. Sim, 2 igrejas em uma vila com 7 famílias, todos muito religiosos, mas com suas diferenças. Lá vimos tucanos, araras, papagaio e um macaquinho. Todos moram por lá mesmo, os pássaros todos soltos, mas como eles acostumaram a alimentar-los eles não vão embora, estão sempre por ali prontos para brincar, cantarolar ou puxar o seu cabelo.
Na comunidade Tiririca, conhecemos um águia que passa a maior parte do seu dia olhando para as margens do rio e sendo super fotogênica para fotos, mas quando nos aproximamos ela levantou voo, com as suas super assas. Que animal fascinante.
Depois de uma tempestade, o sol saiu novamente e então fomos a nosso última parada. Uma das pequenas praias que ainda não foram submersas. Lá uma família local estava preparando um churrasco de peixe na areia, depois de um dia de pescaria. Com várias crianças por lá, elas logo ficaram curiosas para conhecer o gringo irlandês e uma brasileira de um lugar bem distante. Depois de muita conversa e brincadeiras na hora de ir embora, uma delas me perguntou como nós chegamos lá, e eu falei na maior inocência de barco, daí começou uma gargalhada sem fim…daí uma delas me falou que o que nos trouxe não era um barco e sim uma voadeira. Barcos rápidos são chamados voadeiras por lá. E depois ficaram rindo e me chamando de Milharina. Como elas nós também nos divertimos bastante.
Voltando para terra firme, aproveitamos o fim da tarde na pousada, nadando no rio e brincando de se jogar na água pendurados em uma corda próximo ao deck. Vimos um por do sol maravilhoso com um espelho negro, e assim acabou o nosso penúltimo dia no norte do Brasil.
Novo Airão por ser uma cidadezinha no meio do nada, é super parada no meio da semana. Na nossa procura para restaurantes depois das 6pm, descobrimos que eles fazem um rodízio de cada dia da semana um que abre, bem coisa de cidade pequena. Não podemos reclamar da qualidade da comida, sempre super gostosa e como cada dia tivemos que provar um restaurante diferente, bem variada. Com preços bem razoáveis, só no primeiro almoço que paramos no primeiro lugar que vimos, talvez o único que estaria aberto e não foi nada especial e posso dizer que um pouco caro, isso foi no Sabor do Sul, que de sul só tinha o nome.
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O engraçado é que até em uma cidade como está têm uma loja de cervejas “artesanais”, bem na rua principal. Onde você pode encontrar Leffe, Franziskaner, Duvel entre outras cervejas nacionais. Todas com um preço super inflacionado, o preço da cara! A loja é um bibelô do outro único alemão que mora por ali, ele começou uma produção de cervejas artesanais por ali mesmo, “Sarapó“.
O nosso plano inicial para a volta a Manaus era pegar o barco e pernoitar em redes, mas como não sabíamos que os barcos só saem dia sim dia não. Não deu certo, infelizmente. E depois de dois dias dormindo em redes, nem sei se queria dormir mais um, né… Então acabamos pegando uma lotação e acabamos fazendo amizade com o pessoas local. De volta a Manaus só tivemos tempo para pegar as mochilas no hostel e ir direto para o aeroporto… Daí estávamos de volta ao Rio e continuando nossa viagem de carro!
Nove dias em Manaus e nos arredores foi tempo bastante para sentir e começar a entender a Amazonas, se eu pudesse teria ficado mais…mas assim que é bom fique com gostinho de quero mais e a certeza que um dia voltarei por aqui para explorar mais e mais… Uma coisa que aprendi é que Amazonas é um mundo gigante! Eu sabia que era grande, mas é maior do que eu imaginava.
Preços:
- Lotação Taxi R$55 / €15 por pessoa
- Pousada Bela Vista: R$50 / €14 por noite
- Passeio de barco R$250 / €70 por 4 horas
- Restaurantes R$37 / €10 (caro) ou R$10 / €3 (basico)
- Visita aos Botos R$10 / €3 por pessoa