De Asuncion nosso plano era cruzar o país em direção ao sudeste onde estão as missões jesuítas, e sair do Paraguai atravessando a fronteira para a Argentina pela cidade de Encarnación. Seria uma viagem de 2 dias, por isso resolvemos parar em Villarica. Algumas meninas americanas que conhecemos em Foz do Iguaçu tinham nos falado sobre o lugar, como achamos um couchsurfing para nos hospedar por lá, este era o plano. Então vamos!
Mas a nossa viagem foi rudemente interrompida pela polícia de trânsito do Paraguai, já estávamos a mais de uma hora fora da capital. O oficial encarregado nos parou, nos puxou de lado para uma conversa com uma cara muito séria e preocupada. Lá vem bomba!


Primeiramente ele nos mostrou em uma grande câmera digital, com uma super foto de nós ultrapassando um caminhão onde havia duas linhas continuas super amarelas, parecia foto da revista 4×4, com uma qualidade perfeita. Ui! Sabíamos que tínhamos feito algo errado então estávamos prontos para o que der e vier, ou melhor estávamos totalmente nas mãos dos policiais. Daí começou a conversa:
Policial: “Isso que vocês fizeram é muito sério! Inflação número… Vocês vão ser mudados!”
Nós: “Ok … 😦 Podemos saber de quanto é a multa?”
“1,2 milhões Guaranis” (R$ 700 / € 190)
“Que??? Tudo isso? E onde temos que pagar? Pode ser pago com cartão?”
“Não, você deve voltar a Asuncion hoje e pagar a muta. Daí você volta com recibo aqui…”
“Hoje?”
[Asuncion tinha ficado para traz a cerca de 100 quilômetros]
“Sim, Precisa ser paga hoje!”
“Mas…estamos indo no caminho oposto…”
[Dai do nada o policial se torna super simpático]
“Diga-me, onde você está indo?”
“Para Villarica, encontrar um amigo.”
“Ah sí, sí. Lugar muito legal. Muy bonito. As montanhas…! Posso te fazer o favor de deixar você pagar aqui a multa…Quanto vocês têm em dinheiro?”
[Eu dei uma olhada]
” Temos bem menos que o total da multa…só uns 300.000 e pouquinho”
“Você pode pagar 300.000, é suficiente” (Em torno de € 50 / R$180)
[O policial leva o dinheiro, e solidariamente nos deixa com uns trocados]
[E nos manda seguir]
“Continue!”
Com nossas carteiras significativamente mais leves chegamos em Villarica. Uma cidadezinha no meio do país, bem tradicional super colorida e estava toda decorada para a Fiesta de San Juan. Sim, existe São João no Paraguai também!
Uma curiosidade da cidade de Villarica é que a cidade teve que se mudar 7 vezes devido às invasões paulistas bandeirantes. Quando foi fundada em 1570 se localiza no sul do território brasileiro.

Pedro, nosso anfitrião pelo Couchsurfing nos encontrou fora de sua loja de sorvete, chamada Chaplin. Nos mostrou o nosso apartamento onde ficamos pelos próximos dias. Tivemos o ap só para gente, super minimalista, quer dizer estava vazio, sem nenhum móvel, só uma cama de casal. Um pouco estranho alguém te hospedar em um apartamento assim, mas de graça e só para nós estava ótimo! Pedro fala Inglês, Castelhano, Português e Guarani, nos entendemos super bem. Ele está em expansão no seu novo negócio de hambúrguer take-away. Um empreendedor nado! Ah, e sobre o guarani, aqui no Paraguai se fala castelhano e guarani. O mais comum é eles falarem espanhol com algumas palavras de guarani.


A rua principal está cheia de bares, restaurantes e vários outro tipo de negócio, com suas portas abertas até tarde da noite. Não é nenhum pouco como as típicas cidades pequenas que passamos, onde tudo fecha às 18:00. Villarica parece estar bem preparada para um fluxo de turistas que não existe, nós éramos os únicos turistas em toda a cidade. Se ao menos houvesse algumas atrações na cidade e nas proximidades, mas não tem muito o que se fazer por ali. Nas noites nos juntávamos aos moradores na praça principal para desfrutas Kavure, um tipo de pão com queijo cozido em uma churrasqueira cheia de brasas. E tentar descobrir um pouco mais sobre este país que normalmente não atrai muitos turistas.

A avó do Pedro, que mora ao lado de sua loja, coordena uma “fábrica de Kavure” na porta da sua garagem. O menu também inclui mbeju (um tipo de bolo de amido), Chipa so’o (um pequeno bolo recheado com carne e ovo) e Pastel Mandi’o (uma espécie de sanduíche frito com carne e legumes dentro). Todos sempre acompanhados de chá de mate cozido com muito açúcar.
Tivemos a maior sorte de estarmos lá para o final de semana de San Juan. Eles celebram o solstício do inverno (o dia mais curto do ano), com abundância de vinho, comida pesada de carne e fogo. Muito fogo! Com vários costumes bem diferentes do nosso no Brasil.
Eu imagino que para as crianças do Paraguai esta é a melhor noite do ano. Imagina passar à noite brincando com fogo, muita música e até saltar através de um aro em chamas com seu pais aplaudindo. O entretenimento da noite também incluiu quebrar uma Piñata com os olhos vendados, tentar subir um pau de sebo para alcançar um pode com dinheiro no topo, um casamento junino em guarani, queima de um boneco de Judas, caminhar com os pés descalços nas brasas da fogueira e muitas outros.
Depois da nossa visita ao Pico da Bandeira e alguns outros picos ao longo do caminho, resolvemos fazer uma visita ao ponto mais alto no Paraguai, a 842m está o pico do Cerro Tres Kandu. Anteriormente o lar de uma importante base de rádio do Exército paraguaio, agora é parte de um parque nacional tranquilo, com uma série de trilhas íngremes que levam ao topo.


O sul do Paraguai é uma planície só, e nós estávamos no único morro por vários quilômetros, a vista do alto foi impressionante. Do nosso ponto de vista olhando para o sul, a cena foi pontuada com dezenas de incêndios, agricultores queimando seus campos para revitalizar o solo. Infelizmente, esta camada cinzenta, enevoada não estava se movendo para lugar nenhum, o que provavelmente não deve ser muito bom para os pulmões de ninguém.
Na nossa volta a Villarica tivemos o presente de um lindo pôr do sol se pondo atrás do morro que tínhamos deixado para trás. Passamos por várias casinhas, fazendas, cavalos e portos, uma área bem rural. Daí voltamos ao apartamento e Pedro nos alimentou com seus hamburguês e Kavure da sua avó na nossa última noite. Passar uns dias no meio do nada, em uma cidade pequena nada turística, tendo contato com os moradores foi bem uma experiência bem interessante. Obrigada Pedro!
Na manhã seguinte nós visitamos o mercado de rua de Villarica, para completar nósso stock para a proxima parte da viagem. É claro que ficei impressionada com tantas cores e variadades.

No próximo capítulo: parte 4, viajar de volta no tempo para o século 17 e visitar uma cidade com uma pitada de nazismo.
Preços
- Suborno da policía: 300,000Gs / €50 / R$180
- Cerro Tres Kandú: De graça!
- Cafe da manhã, almoço e bebidas para três pessoas no supermercado: Quase €12 / R$40
- Tudo por aquí é super barato, por isso não nos demos o trabalho de anotar. Paraguai é louco barato 🙂