Paraguai: parte 1, parte 2, parte 3.
Deixando Villarica para trás tivemos alguns bons quilômetros com a mesma planície que vimos do topo do Cerro Tres Kandú. O sul do Paraguai é como um buraco negro no Google Maps, então pela primeira vez na viagem tivemos que desligar o nosso indispensável companheiro GPS e perguntar por direções. Os paraguaios são sempre super atenciosos e adoram ajudar, então isso não foi problema algum. A estrada principal que liga Villarica a Encarnación estava em obras, então dirigimos quase o caminho inteiro em estradas de barro vermelho, dividindo espaço com vários tratores. No caminho vimos vários lindos pássaros, muitas queimadas e vários terrenos vazios.

Encarnación certamente tem um ar de cidade de fronteira, mas não se compara com o extremo ridículo excesso de Cuidad del Este. Tem mais do que só shoppings de produtos importados. Nós só ficamos por aqui uma noite em um hostel, que nos foi recomendado por um mexicano-americano dono de um café. Que por conhêcidensia foi cassado com uma mulher de Cork, cidade do Jack, eita mundo pequeno.
Então, por que fomos a Encarnación? Os Jesuítas. Por voltar do século 17, a Espanha estava no auge de seu sucesso imperial na América do Sul. As terras ao redor do rio Uruguai e Paraná foram tomadas por missionários da ordem jesuíta, trazendo o cristianismo e a “civilização” aos povos indígenas tupi–guarani. Estas “reduções” jesuítas tal como os assentamentos monásticas são conhecidos por sua arquitetura barroca extravagante, construídos com técnicas locais da cultura Guarani. Algo muito importante que ocorreu nesta época, século 17, foi que a bíblia cristã foi traduzida para a língua Guarani, é claro que com o propósito de catequizar os índios. Digo importante por que este é um dos motivos que fez com que a língua não desaparecesse, como ocorreu com o Tupi-guarani no Brasil.
Com o tempo, esses assentamentos tornaram-se altamente bem sucedido, rivalizando localmente as economias dos impérios espanhol e português em ambos os lados, que continuavam com a escravidão. Isto, junto com outras peripécias políticas, se tornou uma ameaça para as potências da época, de modo que os jesuítas foram eventualmente vítimas de seu próprio sucesso, e foram expulsos da América do Sul em 1767.
Hoje, os remanescentes dessas construções estão espalhadas por partes do Paraguai, Argentina e Brasil. Nós visitamos dois locais, Trinidad, e Jesús de Tavarangue, ao norte de Encarnación. Em Trinidad há uma visita guiada disponível por uma pequena taxa. Ver o contraste dos tijolos vermelhos contra os gramados verdes é impressionante, construções gigantescas e com uma beleza e riqueza de detalhes. Estes locais são hoje reconhecidos como património mundial da humanidade, juntamente com outros nas proximidades. Hoje são os únicos sinais restantes de uma comunidade muito rica e independente, uma fusão da cultura nativa e europeia. Dentro da nave maior da grande catedral, nos sentimos como dentro de uma enorme concha vazia que tem o céu como teto. Lá encontramos um ciclista francês solitário, que está viajando pela América do Sul. E ali parou para tirar suas fotos junto as ruínas dos pilares da construção não acabada.
A poucos quilómetros de distância, mas em uma época da histórica muito diferente, está a comunidade de Hohenau. Colonizada por alemães no início do século 20, bastante semelhante a muitas outras cidades que tínhamos passaram. Nos estávamos esperando uma cidade com casinhas charmosas alemãs, boa cerveja…mas não, nada de tão especial. O interessante é que o alemão ainda é falado por ali e é ensinado nas escolas locais. Uma cidadezinha alemã perdida cercada por Português, Espanhol e Guarani por todos os lados. Infelizmente os alemães que originalmente emigraram para esta região não chegaram em um bom momento. Eles receberam suas cidadanias paraguaias pouco antes da eclosão da guerra do Chaco, então todos os jovens homens foram recrutado para lutar pelo Paraguai. Pelo que vimos nos memoriais foram poucos os que voltaram para Hohenau. O que ninguém na cidade falou sobre foi que mais tarde, na década de 1950, Josef Mengele viveu aqui por um ano. Depois de escapar da Alemanha nazista pós-Segunda Guerra Mundial. Foram vários os nazistas que fugiram para a América do Sul, e Paraguai parece ser um destino até que popular.


De lá seguimos viagem deixando para trás os jesuítas, os alemães, os espanhóis, os guaranis e até mesmo os irlandeses. Dando tchau para o Paraguai, um país único e com muita história. Agora podemos dizer que estamos começando a compreender a sua complexa história, mas há sempre mais o que aprender.
Preços
- Hostel em Encarnacion: R$55 / €15 para um quarto de casal
- Entrada para as ruinas do Trinidad & Jesús: Quase €4 / R$15
- Churrasco em um botequim no Hohenau: < €1 / < R$4. (O unico lugar aberto que encontramos)